A Sutil Arte de não Ser Sólido
Quase sempre pensar é um excesso;
um tremendo esforço desnecessário.
Só deixo cair o peso
de cada segundo passado
e me espalho no ar
– sem os ângulos agudos dos conceitos,
sem os limites que desenham as faltas,
sem a mínima pretensão de ser sólido.
Me espalho no ar,
como risos de crianças ressoando pelo vale,
como o perfume das flores
e as abelhas com sua dança,
como o silêncio dos que souberam ser noite
– me espalho em tudo que sinto,
me espelho em tudo que meu olhar alcança.
E quem sou eu,
sem o que só penso que sou?
Me chame pelo nome que ninguém escreve,
me encontre no teu sagrado silêncio,
que também é meu,
me abrace no auge do Agora
– e então cantaremos,
mas sem ferir a sinfonia da floresta,
e então dançaremos,
mas sem deixar pegadas no tempo,
e então nós não seremos nada
senão tudo que sempre somos.
Bruno Andante (Vishuddhi)