Paradoxos

Permanecer tanto tempo quanto possível
consciente de que só existe o presente
e que tudo que se chama de tempo
é pensamento acontecendo no Agora.

Entender, sem se limitar a pensar,
que o momento presente é único
e no entanto é sempre diferente.

Olhar o céu diversas vezes
na constância desse eterno agora
e ver que é dia ou é noite,
e que há nuvens ou não há nuvens,
e ora chove ora brilha o sol no azul,
ou ambos (talvez arco-íris)
– e em tudo isso poder não esquecer
  que o céu permanece o céu,
  e que o espaço em si nunca se pinta
  nem de azul nem de noite e estrelas,
  e não se balança pelo vento
  nem se queima pelos raios.

Lembrar de retornar para esse centro
até esquecer a mentira
de que existe alguém que vai e volta.
Ver a verdade da mente que mente,
ao pedir-lhe para que conte a história
disso que não tem passado e futuro,
e deixar que o paradoxo
abra um fenda na pedra
que sustenta o labirinto
– ao revelar o véu invisível da visão
  que esconde e não esconde
  que aquela pedra é feita de vento.

Acordar do sonho
de que alguém dorme e acorda;
e estar completamente desperto
para a aurora que se enlaça ao crepúsculo,
nessa bela simplicidade indizível
de ser o sonho
e ser sonhador
– sem distinção.

Bruno Andante (Vishuddhi)

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