De Volta para o Presente

Todo um mundo se move apressado e ansioso, como quem corre contra o tempo, como quem não tem opção. Mundo tão grande, tão complexo, além do alcance da minha compreensão ou controle. Nesse território vivo e sempre mudando, cada um de nós é um ponto de convergência existencial. Sou só um entre bilhões de seres humanos pelos quais se expressa o zeitgeist: o espírito do tempo, o clima cultural de um momento histórico.

Momento a momento, sinto o movimento desse mundo reverberando em mim. Em meus pensamentos transitam infindáveis problemas por resolver. Constantes assuntos pendentes, tantas abas abertas no computador mental. Em algum lugar há um alerta sempre soando. Tudo me convida a fazer mais, falar mais, pensar mais.

Império do Yang, do princípio de ação e expansão. É o senhor do fogo – e agora um tirano, ainda soberano. Expandir, competir, conquistar. Ser mais, ser maior, dominar, controlar. Fogo em excesso, fogo sem equilíbrio, poder e perigo.

Mas sou um rebelde. Me inspiro pela ideia radical de que tudo tem seu tempo, de que posso caminhar um passo de cada vez – mesmo quando precise caminhar rápido. Sei que ser precede o fazer. E que a civilização não precisa e não pode ser uma máquina de moer gente, sistematicamente destruindo a natureza que nos sustenta, para produzir um pouco de luxo ao custo de tanto lixo.

Quando todos correm e já nem sentem a terra sob os pés, aquietar-se é um ato de rebeldia: vai na contracorrente do movimento dessa máquina que nos acorrenta, vestida com o ferro e a ferrugem de um tempo artificial, velho e rouco, que range enquanto ruge.

O verdadeiro tempo é outro: é novo, é vivo, é simplesmente e deliciosamente agora. E não há tempo a perder com a pressa. Desacelerar é urgente: urge diminuir o ritmo, para estar plenamente presente a cada passo da dança que é a vida. Uma dança, e não uma corrida contra o tempo. Há estações em cada respiração. Já sentiu o ar que te permeia, hoje?

Em tempos de tanto ruído, silenciar é um ato revolucionário. Silenciar para poder ouvir. Para poder sentir. Poder saber. Porque a sabedoria não vem de pensar sem parar, mas de escutar bem atentamente, e perceber a voz da intuição que ressoa nos espaços entre os pensamentos.

Há um vazio fértil, pleno de potencial criativo, um espaço de consciência no qual emergem os movimentos da mente-e-corpo. Mistério. Sutil, invisível, intocável, e sempre presente. Simples, e mais profundo que o mais complexo dos conhecimentos intelectuais.

Fonte de força, ao alcance aqui e agora: infinito imediato. Descansar aqui é sinônimo de despertar. E despertar é estar pronto para a ação. Para uma ação com precisão: de curar mais que de ferir, de criar mais que destruir.

“Quando Yang alcança seu ápice, Yin começa a crescer.” ~ I Ching, Hexagrama 24: O Ponto de Mutação

Bruno Andante (Vishuddhi)

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